Revista Spot
Agosto 8, 2023
Com uma rede eficiente de recolha de óleos alimentares usados que chega a cada vez mais municípios, pelo bem do ambiente e de uma mobilidade progressivamente mais descarbonizada, a EcoMovimento assume a missão de tornar o hábito de reciclar óleo alimentar tão normal como o de reciclar plástico, vidro ou cartão, numa verdadeira ‘revolução de consciências’. Hugo Rocha e José Fernandes, o CEO e o Diretor de Comunicação da empresa, continuam a sublinhar a importância da trilogia economia circular, conversão em biocombustível e redução do impacto ambiental.
Têm havido progressos assinaláveis ao nível da recolha doméstica de óleos alimentares usados (OAU) em Portugal?
HR: Sem dúvida. Iniciámos a nossa atividade em 2011, dedicados de forma quase exclusiva ao canal HORECA. Em 2020, e com a pandemia a abrandar a recolha de óleo alimentar usado no setor HORECA, lançámos o Oleão GOTA, um equipamento desenvolvido para a recolha de óleos alimentares usados produzidos no setor doméstico, aposta essa que permitiu chegar à casa de 1 200 000 portugueses. Produzido em plástico reciclável, o Oleão GOTA tornou-se ponto de partida para uma nova fase.
Depois de uma sólida presença no setor da restauração, ‘entrámos’ na casa dos consumidores. Percebemos que existe um interesse crescente por parte dos municípios na reciclagem de óleos alimentares usados e recebemos cada vez mais contatos de particulares com vontade de saber mais sobre a reciclagem de OAU. Sabemos, claramente, que parte do caminho está feito, mas há uma parte muito maior por fazer. Mais de metade do OAU que se produz nas nossas casas ainda fica por recolher.
Os portugueses estão com um mindset mais ‘verde’? Está a haver uma revolução de consciências?
JF: A comunicação e a sensibilização têm sido essenciais. Trabalhamos diariamente a nossa comunicação de forma a sensibilizar cada vez mais pessoas, quer através das nossas redes sociais, mas também através da participação em eventos e ações de sensibilização. Acreditamos no poder de uma comunicação integrada a chegar a todos os consumidores. As nossas dicas e pictogramas vão desmistificando todas as dúvidas e dando as informações necessárias para um correto tratamento dos óleos alimentares usados. Queremos que o processo seja simples, mas que as pessoas percebam algumas regras essenciais.
HR: E quando estamos a falar de um resíduo que é relativamente novo, a comunidade necessita de muito mais sensibilização. Lembro-me de encontrar, desde sempre, ecopontos na via pública para poder reciclar, mas o oleão ainda é uma grande novidade que exige um longo trabalho de sensibilização.
JF: Um indicador positivo é o facto de recebermos imensas chamadas de munícipes que nos ajudam até a prestar um melhor serviço. Ou seja, já temos pessoas que nos solicitam oleões junto às suas zonas de residência. Os municípios assumem um papel preponderante nesta tarefa de chegarmos a cada vez mais público.
Que impacto teve a vossa atividade em 2022?
HR: Em 2022 crescemos cerca de 40% no volume de óleo processado face a 2021. Portanto estamos a reciclar OAU que nunca seria reciclado se não fosse a nossa atividade. É muito mais urgente reciclar aquilo que neste momento não está a ser reciclado, do que reciclar aquilo que já é reciclado. Portanto, do ponto de vista ambiental os ganhos são enormes.
O gesto, aparentemente simples, tem um enorme impacto na nossa qualidade de vida e na sobrevivência do ecossistema planetário…
JF: Um simples litro de óleo de fritura consegue poluir cerca de um milhão de litros de água – aquilo que uma pessoa consome aproximadamente em 14 anos de vida. Para além do risco do entupimento de tubos e canalizações, quando eliminado de forma descontrolada através dos esgotos urbanos, o OAU constitui um potencial perigo de contaminação dos solos e águas, comprometendo a longevidade dos seus ecossistemas.
HR: Esta eliminação de forma descontrolada dificulta e onera o trabalho das Estações de Tratamento de Águas Residuais. São despesas que os municípios têm pela não reciclagem do OAU. Um resíduo que, ainda por cima, pode ser convertido numa nova energia, o biocombustível.
Atribuem cada vez mais importância à digitalização dos vossos métodos, nomeadamente a app móvel a facilitar a fluidez de comunicação?
JF: O objetivo é fazer com que a reciclagem de OAU se torne um processo simples e rápido para o consumidor. Quanto mais digitalizarmos os nossos processos, mais fácil será comunicar com a nossa rede, nomeadamente com o setor HORECA, Industrial e com os Municípios. Procuramos veicular cada vez mais informação através de todos os canais e ferramentas digitais de que dispomos.
De que forma têm vindo a melhorar os vossos processos internos?
HR: Todos os anos temos mais elementos para avaliar a nossa atividade e percebermos onde é que podemos otimizar processos: do planeamento à comunicação, passando pela logística e pelo tratamento do OAU. Por outro lado, queremos ser um facilitador também para o utilizador. No canal Horeca temos recolha ativa e trabalhamos com frota própria. Para além do serviço de recolha de óleos alimentares usados, acoplamos um serviço acessório de limpeza nos filtros dos exaustores. Queremos tornar o nosso serviço cada vez mais eficiente e integrado.
Quais as principais vantagens de reciclar o OAU?
JF: A importante trilogia: economia circular, conversão em biocombustível e redução do impacto ambiental.
Há cuidados especiais a ter?
JF: Deixar arrefecer o óleo, colocá-lo numa embalagem de plástico até 7 litros, retirando, se possível, possíveis restos de comida, e colocar no oleão mais próximo. No oleão nunca deve ser despejado o óleo diretamente, nem colocados outros resíduos que não óleo alimentar usado, de forma a evitar uma possível contaminação.
Temos agora mais municípios abrangidos pelo oleão EcoMovimento?
HR: Abrangemos atualmente 16 municípios do Norte e Centro, com cerca de 1000 oleões na via pública. O objetivo é crescer de uma forma sustentada que nos permita continuar a assegurar uma recolha de qualidade.
Ao reciclar OAU estamos também a contribuir para que o país cumpra as metas europeias de tratamento de resíduos, de utilização de energias renováveis e de biocombustíveis?
HR: A equipa de recolha da EcoMovimento recolhe os óleos alimentares usados encaminhando-os para a sua unidade de produção, onde o OAU é tratado e refinado, sendo posteriormente encaminhado para centros de tratamento onde este é, maioritariamente, transformado em biocombustível. O biodiesel é uma energia mais limpa em emissões, com um claro benefício para o ambiente. As normas europeias são cada vez mais animadoras, prevê-se que a quantidade de
biocombustível a incorporar no diesel vá aumentar, estando esta ação sempre limitada à disponibilidade de óleo alimentar usado. Mais de 90% do óleo alimentar usado, que é recolhido pelos operadores, chega atualmente aos grandes produtores de biocombustível.
Existem ainda muitas oportunidades de crescimento no setor?
HR: Completamente, principalmente se falarmos de reciclagem de OAU no setor doméstico. De norte a sul do país ainda encontramos muitos municípios que não têm soluções de reciclagem de óleos alimentares usados. Portugal tem um conjunto de bons operadores a prestar este serviço, portanto neste momento não há razão para que os municípios não tenham uma solução para reciclar os óleos alimentares usados produzidos no setor doméstico.
Quais os grandes objetivos para 2023?
HR: Continuar a trabalhar com a mesma responsabilidade social e ambiental, em harmonia com a nossa equipa, os nossos fornecedores e os nossos clientes.
Continua a ser essencial educar as camadas mais jovens?
HR: Continua. Consideramos o público mais jovem um veículo muito importante de informação.
JF: Através do nosso projeto O Oleão Vai à Escola pretendemos que o público mais jovem leve esta informação para casa e que exista uma maior sensibilização para a reciclagem de óleos alimentares usados. Lançámos programas desafiantes como a Liga dos Oleões de forma a chegar a cada vez mais famílias. Contamos atualmente com mais de 300 escolas parceiras dos distritos de Braga e do Porto. Acreditamos que as novas gerações têm esse poder de inverter o circuito de educação ambiental, promovendo em casa bons hábitos de reciclagem, por um amanhã melhor para a humanidade, em prol da preservação da Terra que todos temos em comum.
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